quinta-feira, 31 de julho de 2014

Livros Entre Linhas: Senhora



Nome do Mundo: Senhora.
Único em seu Universo.
Dimensão: 162 páginas.
Criador: José de Alencar
Data de Nascimento: 
BRA: 1875.
Onde Obter: Saraiva - Submarino - Livraria Cultura - AmericanasPDF
Relatório Completo: Skoob
Sinopse: Aurélia Camargo, filha de uma pobre costureira e órfã de pai, apaixonou-se por Fernando Seixas – homem ambicioso - a quem namorou. Este, porém, desfez a relação, movido pela vontade de se casar com uma moça rica, Adelaide Amaral, e pelo dote ao qual teria direito de receber. Passado algum tempo, Aurélia, já órfã de mãe também, recebe uma grande herança do avô e ascende socialmente.Passa, pois, a ser figura de destaque nos eventos da sociedade da época. Dividida entre o amor e o orgulho ferido, ela encarrega seu tutor e tio, Lemos, de negociar seu casamento com Fernando por um dote de cem contos de réis. O acordo realizado inclui, como uma de suas cláusulas, o desconhecimento da identidade da noiva por parte do contratado até as vésperas do casamento. Ao descobrir que sua noiva é Aurélia, Fernando se sente um felizardo, pois, na verdade, nunca deixara de amá-la. E abre seu coração para ela. A jovem, porém, na noite de núpcias, deixa claro: "comprou-o" para representar o papel de marido que uma mulher na sua posição social deve ter. Dormiram em quartos separados. Aurélia não só não pretende entregar-se a ele, como aproveita as oportunidades que o cotidiano lhe oferece para criticá-lo com ironia. Durante meses, uma relação conjugal marcada pelas ofensas e o sarcasmo se desenvolve entre os dois

Pena de quem irá torcer o nariz só pelo autor ser José de Alencar. O triste é que literatura nacional deveria nos encher de orgulho e vontade de ler. Mas todos nós sabemos que parte da culpa é devido ao clima de obrigação que as escolas impõe para esses livros. Enfim, tudo se resume em desperdício de obras incríveis. E, infelizmente, com esse não é diferente. 
Senhora, historicamente falando, é catalogada como “Romance urbano”, por tratar de histórias da alta burguesia da época. Enfim, mais detalhes nos seus livros de literatura do ensino médio ou Wikipédia. Mas o que chamou tanto minha atenção nessa “leitura obrigatória?" Afinal, elas sempre são entediantes, não é? WRONG!

“Ninguém ao ver essa gentil menina, na aparência tão calma e tranquila, acreditaria que nesse momento ela agita e resolve o problema de sua existência”.

Esse livro conta a história de Aurélia Camargo, e se inicia nos mostrando como é sua vida atualmente. Órfã, solteira e herdeira de uma grande fortuna, Aurélia frequenta os melhores bailes, e está apenas começando a vida dos 20 anos. Puro glamour. Mas nem sempre foi assim. Também conhecemos Fernando Seixas, um rapaz que vive divulgando uma imagem de rico, mas na verdade possui origens bem humildes. Simplesmente não consegue resistir às festas e a falsa sensação de poder estar lá. Fernando no momento procura loucamente um casamento que lhe proporcione um rico dote, pois está cheio de dívidas e de vontade de continuar a exercer sua ilusória riqueza.

“Pois o ouro tem uma fumaça invisível, que embriaga ainda mais do que a do charuto”.


*Pausa para explicações: Naquela época, a família da noiva tinha que oferecer uma quantia de dinheiro ao noivo, chamado dote, e após o casamento, ele podia fazer o que quiser com o valor. E a noiva deveria ser grata por alguém a ter aceitado. (Reprimido ânsia de vômito em 3, 2, 1...)*


“Aurélia distinguia-se pela sobriedade, que era nela a consequência de temperamento e educação”.

Certo, mas o que essas personagens possuem com comum? And the correct answer is: Um passado enamorado juntos. Tempos atrás, Aurélia não passava de uma moça pobre que trabalhava duro para manter vivos sua mãe doente, irmão demente e casa que se encontrava em péssimas condições. Ao contrário do costume da época, Aurélia pensava em conseguir fazer a família subir de vida sozinha. Não se interessava por casamentos. Porém, o sonho de sua mãe era ver a filha casada e mesmo em leito de morte, insistia para ela abrir a janela de seu quarto e deixar o mundo contemplar sua beleza. Afinal, como narra todo livro no período do romantismo, as mulheres eram donas de uma beleza divina, que deixa qualquer (Zeuza) Afrodite no chinelo.


“Aurélia amava mais seu amor do que seu amante; era mais poeta do que mulher; preferia o ideal ao homem”.

Aurélia cede e todo dia passa algumas horas contemplando a paisagem e deixando-se ser contemplada. Claro que choveram pretendentes pedindo sua mão. Mas apenas um rapaz chamou sua atenção. Alguém que não parecia interessado em dotes ou casamento instantâneo. Sim, se você pensou em Fernando (quem mais? O.o), um pedaço de pão imaginário pra tuOs dois ficaram noivos e, segundo o autor, se amavam de verdade. Mas então uma moça ofereceu uma alta quantia em seu dote para Fernando. De coração partido, mas preferindo o dinheiro para quitar as dívidas e viver no falso luxo, Fernando deixa Aurélia e se compromete a outra.


“ – Quer saber minha opinião? Isto que o senhor chama escravidão, não passa de violência que o forte exerce sobre o fraco; e nesse ponto todos somos mais ou menos escravos, da lei, da opinião, das conveniências, dos prejuízos; uns de sua pobreza, e outros de sua riqueza. Escravos verdadeiros, só conheço um tirano que os faz, é o amor, e este não foi a mim que o cativou”.


Aurélia, agora órfã e sozinha, recebe a notícia de que seu avô paterno a reconheceu como neta e única herdeira. Mesmo Aurélia mal sabendo da sua existência, ganha todo o dinheiro dos negócios da família. Depois de contratar uma espécie de empresário para ajudá-la, Aurélia começa a elevar seu padrão de vida e a ascender na alta sociedade. Claro que Fernando ficou sabendo da notícia e o sentimento de humilhação reinou fervorosamente em seu interior. Não tinha coragem de ser visto por Aurélia e só o que lhe restava era aguardar seu casamento com outra. 



“Quem não compreender a força desta razão, pergunte a si mesmo por que uns admiram as estrelas com os pés no chão, e outros alevantados às grimpas curvam-se as moedas no tapete”.

Mas um dia Fernando recebe uma estranha proposta: um empresário lhe informa que há uma mulher oferecendo um riquíssimo dote, pedindo apenas para sua identidade só ser revelada caso ele assinasse o contrato e não houvesse mais volta. Oh, puxa vida, quem será que é? Fernando, desconfiado, aceita o pedido e desfaz o o antigo noivado. Depois de todo o momento de choque da revelação e blás, Aurélia e Fernando finalmente se casam! YAY, PARTY HARD! Tudo transcorria para um “felizes para sempre”, Mas na noite de núpcias, Aurélia deixa bem claro que COMPROU Fernando, por isso seria ela a administrar a casa e os negócios. Fernando, se sentindo humilhado e sem escolhas, decide entrar no jogo. A partir daquele momento, ela seria sua Senhora e ele obedeceria tudo que lhe fosse ordenado sem titubear. E é nessa linda cena que encerro a explicação.



“Daí encaminhou-se ao piano, que é para as senhoras como o charuto para os homens, um amigo de todas as horas, um companheiro dócil, e um confidente sempre atento”.

 Quero ressaltar que o livro é HILÁRIO! 

A história gira em volta basicamente do casal “apaixonado” e com o decorrer do livro, vamos conhecendo mais dos seus passados e como tudo culminou para transcorrer do jeito que foi. As personagens foram muito bem moldados e todos são bem caricatos. Aurélia é uma pessoa energética, de pouco drama e cheia de espírito. Como ela mesma diz, conheceu a face da pobreza e da riqueza e por isso sabe ser prudente. Fernando é tranquilo e sempre visou o melhor para seu futuro. E mesmo com tudo que ele fez à Aurélia no passado, ele me fez rir muito agindo forçada e sarcasticamente como escravo de Aurélia.

“– Pois seja antes meu empregado, asseguro-lhe o acesso.
– Já sou seu marido – respondeu Seixas com uma calma heroica”.

É exatamente isso o que mais apreciei no livro. Os diálogos extremamente mordazes, irônicos, sarcásticos e cheios de intenção de provocar, sutilmente disfarçados quando havia outras pessoas no local da guerra silenciosa entre Aurélia e Fernando. Afinal, para o resto da sociedade eles eram um casal vivendo em completa felicidade. Todo o processo de desentendimentos e mágoas entre Fernando e Aurélia soam ainda mais cômicos porque na verdade os dois de amam!, e um não sabe disso a respeito do outro. Somando isso com a encenação de felicidade e sorrisos no rosto que são obrigados a fazer quando saem de casa... fortes risadas.


“Outra mudança notava-se em Seixas. Era a gravidade que sem desvanecer a afabilidade de suas maneiras sempre distintas, imprimia-lhes mais nobreza e elevação. Ainda seus lábio se ornavam de um sorriso frequente; mas esse trazia o reflexo da meditação e não era como dantes em sestro de galanteria”.



A escrita de Alencar é rica, poética e descritiva onde necessário. Ele realmente sabe criar a beleza em palavras.  Você quase acredita que todas as cenas foram transcritas de gravações da casa da Aurélia ou outros lugares onde o livro se passa. Enfim, de encher a imaginação. É como se o autor estivesse ao seu lado, lhe indicando para onde olhar e de que modo. Sei que o livro parece ter um clima de novela e chick-lit. Mas gente, José de Alencar soube inovar e fazer algo bem mais denso e divertido.

“A riqueza também tem sua decência. Casou-se com uma milionária, é preciso sujeitar-se aos ônus da posição. Os pobres pensam que só temos gozos e delícias; e mal sabem a servidão que nos impõe esta gleba dourada. Incomoda-lhe andar de carro? E a mim não me tortura este luxo que me cerca? Há cilício de crina que se compare a estes cilícios de tule e seda que sou obrigada a trazer sobre as carnes, e que me estão rebaixando-a todo o instante, porque me lembra que aos olhos deste mundo, eu, a minha pessoa, a minha alma, vale menos do que esses trapos?”

E não vou mentir, o livro possui palavras complicadas e você pode sentir necessidade de consultar o dicionário. Mas nada que o impeça de entender o contexto ou que estrague sua leitura. Acho que aumentar o vocabulário deveria ser um ponto positivo, não? SIM.


“Passava os dias encerrada em seu toucador. Quando aparecia era sempre distraída e tinha o aspecto essas pessoas que se habituam a viver no mundo da fantasia, e que sentindo-se como aturdidas quando descem à realidade, refugiam-se em suas quimeras”.

Okay, that’s it, people! Espero que considerem a indicação, pois é uma leitura fluída e divertida. VENHA SE SENTIR MAIS CULTO. Cinco anéis, favoritado e amado xD



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